onde está nossa atenção?

blind consumerism in NYC, created by Ivan Farias; aaron weiss photography.

byung-chul han escreveu em a expulsão do outro, obra traduzida e publicada no brasil em 2022

‘’a partir de um determinado momento toda produção torna-se não somente improdutiva e sim destrutiva; a informação não é mais informativa, mas deformadora; a comunicação não é mais comunicativa, mas meramente cumulativa. ‘’

tendo a tela como nossa mediadora, somos isoladas e transfiguradas em consumidoras.

neste mundo contemporâneo o que prevalece é a força da unilateralidade, embora ela seja invisível porque estamos em certa medida anestesiadas com a falsa sensação de conexão e proximidade, a verdade é que o mundo digital desconsidera a existência do outro.

diariamente todo mundo está anunciando algo de um lado da tela: uma conquista, um casamento, uma oportunidade, um novo pet, uma cena cotidiana, uma nova rotina, um mantra, um bom dia.

proliferam storiestelling (ou storytellings) e faltam narrativas, vez que para estas existam pressupõem-se escuta e atenção profundas.

neste sentido somos consumidoras, sem distinção.

todas absorvemos alguma coisa: conteúdo informativo ou não, de lifestyle, dicas e truques, memes, opiniões, recortes, podcast, assinaturas, sugestões diversas sejam em formato estático ou dinâmico em velocidades incompatíveis com a nossa capacidade de compreensão, ordenação e elaboração de conhecimento

dentro de um contexto digital onde as publicações são mostradas de acordo com a interação do usuário com determinado conteúdo, faz sentido pensarmos que quase tudo que nos é apresentado é sobre nossa preferência.

em outras palavras

”cobiçam-se vivências e estímulos, nos quais porém, se permanece sempre igual a si mesmo” na vida e especialmente no vestir.

a primeira vista parece incrível, no entanto “tornamo-nos familiares com tudo (…) acumulam-se informações e dados sem se chegar a um saber …”
Han (2022)

é a proliferação do igual.

ao rolar o feed do instagram várias e várias vezes é possível identificar de fato o que se quer e o que se gosta?

será que gostamos da imagem, da sensação que ela passa, da roupa naquela influenciadora, do tom de voz ou do estilo de vida mostrado?

então se estilo pessoal é uma construção dinâmica, um exercício e uma experimentação de si mesma aliada ao repertório, de vida e de moda, transformada pela prática e alicerçada pela intencionalidade das escolhas. 

em uma sociedade hiperconectada, individualista, com fluxo e consumo intensos de informações de moda ininterruptos, códigos de vestir efêmeros, recortes de vida propositais (vide todas as cores, namings, trends) será que toda predileção é intencionada? 

f o n t e s:
__imagem: blind consumerism in nyc – aaron weiss photography.
__HAN, BC. A EXPULSÃO DO OUTRO: Sociedade, percepção e comunicação hoje Tradução: Lucas Machado. Petrópolis – RJ: Vozes 2022.
__ OSTROWER, Fayga. CRIATIVIDADE E PROCESSOS DE CRIAÇÃO. 30 ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2014.

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